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segunda-feira, 3 de novembro de 2025

PRODUTIVIDADE E VALORIZAÇÃO POLICIAL: O DESAFIO DE RECONHECER QUEM PROTEGE

 


Ítalo do Couto Mantovani*

Os dados de produtividade policial de Pindamonhangaba revelam um cenário de crescimento expressivo da atuação das forças de segurança entre janeiro e agosto de 2024 e o mesmo período de 2025. Mais do que estatísticas, esses números refletem o esforço cotidiano, a dedicação e a resiliência de profissionais que enfrentam a criminalidade em múltiplas frentes, mesmo diante de restrições orçamentárias e pressões institucionais constantes.

De acordo com o levantamento, a cidade registrou 966 inquéritos policiais instaurados em 2025, contra 636 no mesmo período de 2024, o que representa um aumento de 51,9%. Esse crescimento indica maior eficiência investigativa e fortalecimento das estruturas de apuração de delitos, essenciais para a responsabilização criminal. O número de prisões efetuadas também avançou de 167 para 247, uma alta de 47,9%, sinalizando ampliação da capacidade operacional e da resposta imediata ao crime. O combate ao tráfico de entorpecentes seguiu a mesma tendência: foram 102 ocorrências em 2025, frente a 92 no ano anterior, aumento de 10,9%. Já as ocorrências de porte de entorpecentes cresceram de 13 para 14 (+7,7%), e as apreensões de drogas passaram de 7 para 9 (+28,6%). Embora modestos esses incrementos revelam um aprimoramento na detecção e repressão ao comércio e circulação de substâncias ilícitas.

Outro indicador que merece destaque é o porte ilegal de armas, que saltou de 26 para 40 ocorrências, crescimento de 53,8%. Apesar de o número de armas apreendidas ter permanecido estável (16 em ambos os períodos), o dado aponta maior vigilância e assertividade nas ações preventivas. Essa ampliação do controle sobre o armamento irregular é estratégica, considerando o impacto direto das armas ilegais sobre os índices de violência letal.

A atuação direta em campo também evoluiu. O número de flagrantes lavrados subiu de 76 para 106 (+39,5%), e o de infratores presos em flagrante passou de 71 para 124, o que representa um aumento de 74,6%. Já as prisões por mandado cresceram de 88 para 151 (+71,6%), reforçando o papel da polícia no cumprimento de decisões judiciais e na desarticulação de organizações criminosas. O número de veículos recuperados teve acréscimo de 23,3%, indo de 30 para 37, resultado que indica ganhos operacionais e melhoria no uso de ferramentas de rastreamento e inteligência territorial.

Esses avanços quantitativos evidenciam uma polícia mais ativa, articulada e eficiente, capaz de responder de forma rápida às demandas da população. No entanto, a Agenda de Valorização Policial, publicada pelo Instituto Igarapé em 2021, alerta que produtividade, por si só, não garante uma segurança pública sustentável. O documento propõe uma reflexão essencial: como manter e ampliar resultados sem sacrificar o bem-estar e a motivação dos agentes?

O relatório do Instituto defende que a valorização policial precisa ser compreendida sob quatro pilares; saúde mental, formação continuada, gestão por evidências e reconhecimento do mérito. Em outras palavras, o desempenho policial deve ser acompanhado por políticas de cuidado, capacitação e reconhecimento, transformando o ambiente de trabalho em um espaço de segurança também para quem protege. O aumento da produtividade em Pindamonhangaba, portanto, não pode ser lido apenas como triunfo estatístico. Ele também revela o peso do esforço humano de profissionais que, muitas vezes, operam sob exaustão emocional e física. O crescimento de 51,9% nos inquéritos instaurados e de 47,9% nas prisões efetuadas demonstra capacidade técnica, mas aponta para a necessidade de consolidar uma política de valorização contínua, que garanta condições dignas e sustentáveis de trabalho.

A experiência recente da cidade indica que o futuro da segurança pública depende da integração entre produtividade e valorização dos profissionais da área. Nesse sentido, três caminhos se mostram indispensáveis: a gestão de desempenho com foco humano, que deve medir resultados não apenas por números, mas também pelo impacto social e pela preservação da integridade física e mental dos policiais; a formação permanente aliada ao apoio psicológico, por meio da criação de estruturas de capacitação contínua e programas de acompanhamento emocional que preparem os agentes para lidar com o estresse e os riscos inerentes à profissão; e, por fim, o investimento em tecnologia e inteligência, fortalecendo a cooperação entre as forças de segurança e modernizando os sistemas de informação, de modo a ampliar a precisão das operações e garantir maior proteção aos profissionais e à população. Mais do que prender ou investigar, o papel da polícia moderna é proteger a vida, garantir direitos e construir confiança pública.

Os resultados de Pindamonhangaba entre janeiro e agosto de 2025 demonstram que há competência e comprometimento. O passo seguinte, e mais decisivo, é assegurar que esses resultados sejam sustentados por uma política de valorização permanente, onde cada avanço na segurança também represente um avanço na dignidade de quem veste a farda.

Valorizar o policial é valorizar a sociedade. É reconhecer que segurança pública não se faz apenas com autoridade, mas com humanidade, preparo e reconhecimento. Pindamonhangaba mostra o caminho: produtividade e valorização não são opostos, são partes do mesmo projeto de um futuro mais seguro e mais justo.

 

 

* Diretor da Divisão de Estudos e Monitoramento da Coordenadoria da Atividade

Delegada – Secretaria de Governo Municipal da Cidade de São Paulo

Formado em Gestão de Políticas Públicas pela USP

Mestre em Gestão e Desenvolvimento Regional

Graduando e História pela USP

Professor de Cursinho pré-vestibular em São Paulo

Contato: italocmantovani@gmail.com

 

 

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