Ítalo do Couto Mantovani*
A violência no
trânsito tem se consolidado como um dos mais graves desafios das cidades
brasileiras, refletindo não apenas falhas na infraestrutura viária, mas também
a urgência de uma mudança cultural em relação à mobilidade e ao respeito à
vida. Em Pindamonhangaba, essa realidade se manifesta nas ruas e rodovias que
cortam o município, onde o cotidiano revela o impacto humano e social dos
acidentes. O município, como tantos outros, enfrenta o dilema de equilibrar
crescimento urbano, aumento da frota e segurança, numa equação que ainda cobra
um alto preço e exige respostas efetivas do poder público e da sociedade.
Segundo os dados
do Infosiga SP, entre janeiro e setembro de 2025, Pindamonhangaba registrou 31 mortes em acidentes de trânsito, um
crescimento de aproximadamente 73% em comparação com o mesmo período do ano
anterior. Com uma taxa estimada de 26,4
óbitos por 100 mil habitantes, o município ultrapassa em mais de quatro
vezes a meta estadual de 5,68 mortes
por 100 mil habitantes até 2030 e a taxa atual do Estado em duas vezes,
13,7. Apesar de iniciativas locais, como a ampliação da fiscalização eletrônica
e campanhas educativas, o índice de fatalidades permanece elevado, sobretudo em
vias de grande fluxo, como a Rodovia
Presidente Dutra e o Anel Viário,
onde se concentram os sinistros mais graves. O dado evidencia que o município
ainda enfrenta um cenário alarmante que exige políticas públicas mais integradas e sustentáveis para conter a
escalada de tragédias no trânsito.
Com base nos
dados do período de outubro de 2024 a setembro de 2025, a BR-116 ocupa a
primeira posição no ranking de vias com maior número de acidentes, registrando
17 óbitos, 15 sinistros fatais e 90 sinistros não fatais, totalizando 645
unidades de perigo social (UPS), todos os casos na região de Pindamonhangaba.
Em seguida, destacam-se a SP-062, com 2 óbitos e 96 UPS, e a SP-123, com 4
óbitos e 69 UPS. Entre as vias urbanas, a Avenida Nossa Senhora do Bom Sucesso
e a Rua Major José Santos Moreira apresentam menor gravidade nos acidentes, sem
óbitos, mas com sinistros não fatais, acumulando 60 e 25 UPS, respectivamente.
Esses dados evidenciam a concentração de acidentes nas rodovias federais e
estaduais, ressaltando a necessidade de estratégias de segurança direcionadas
às vias de maior risco. Ao analisar os óbitos por faixa etária e sexo,
observa-se que a maior incidência ocorre entre jovens adultos, especialmente
entre 20 e 24 anos, com seis óbitos masculinos e um feminino. A faixa de 25 a
29 anos também apresenta números expressivos, com quatro óbitos masculinos e um
feminino. Em praticamente todas as faixas etárias, os homens predominam, com
destaque para 50 a 54 anos (cinco óbitos masculinos e um feminino), 60 a 64
anos (três óbitos masculinos) e 70 a 74 anos (três óbitos masculinos). Já as
mulheres registram menores números em todas as categorias, com destaque para as
faixas de 15 a 19 anos e 25 a 29 anos, ambas com um óbito cada. Esses dados
indicam que homens jovens e de meia-idade são os mais vulneráveis a acidentes
fatais, reforçando a necessidade de políticas de prevenção voltadas a esse
público.
Vale ressaltar também que nesse mesmo período, os acidentes de trânsito
em Pindamonhangaba envolveram principalmente automóveis e motocicletas, que
juntos representaram cerca de 80% do total de veículos envolvidos. Os
automóveis lideraram, com 45% do total, seguidos pelas motocicletas, com 35%.
Caminhões, ônibus e bicicletas tiveram participação menor, correspondendo a 5%,
2% e 2%, respectivamente. Por fim, os acidentes em estradas
e rodovias representam 53% (33 milhões
de reais) dos custos totais, enquanto as vias urbanas respondem por 47% (28,5 milhões de reais).
Isso indica que, embora os acidentes urbanos sejam frequentes, os incidentes em
rodovias e estradas tendem a gerar um custo maior por evento, possivelmente
devido à gravidade e às implicações econômicas mais elevadas.
Para enfrentar o quadro alarmante de violência no trânsito em
Pindamonhangaba, torna-se imperativo a formulação e implementação de um plano
de segurança viária integrado, articulando medidas de caráter imediato e
estratégico, lembrando que pelas informações citadas a maioria dos acidentes
ocorre em vias estaduais e federais, Pindamonhangaba pode e deve atuar de forma
proativa, estabelecendo parcerias estratégicas com essas esferas de governo. Esse
plano deve contemplar, de maneira priorizada, a intensificação da fiscalização
em rodovias e vias de maior risco, a modernização e manutenção da
infraestrutura viária (incluindo sinalização, iluminação e dispositivos de controle
de velocidade) e a execução de campanhas educativas direcionadas às faixas
etárias mais vulneráveis, notadamente homens jovens e de meia-idade.
Simultaneamente, é essencial fomentar uma transformação cultural ampla, por
meio de programas de conscientização que envolvam escolas, empresas e sociedade
civil, reforçando o respeito à vida e à legislação de trânsito. Apenas mediante
uma ação coordenada, que integre políticas públicas robustas e engajamento
social contínuo, será possível reduzir efetivamente os acidentes, mitigar suas
consequências humanas e econômicas e consolidar uma cultura de mobilidade
segura, responsável e sustentável para as gerações presentes e futuras.
* Diretor da Divisão de Estudos e
Monitoramento da Coordenadoria da Atividade
Delegada – Secretaria de Governo
Municipal da Cidade de São Paulo
Formado em Gestão de Políticas
Públicas pela USP
Mestre em Gestão e Desenvolvimento
Regional
Graduando e História pela USP
Professor de Cursinho pré-vestibular
em São Paulo
Contato: italocmantovani@gmail.com

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