A pirâmide da aprendizagem ou teoria da
escolha de William Glasser, psiquiatra norte-americano (1925 – 2013),
transformou-se em argumento de autoridade nos meios de comunicação populares,
sendo assumida como parâmetro e fórmula rígida de aprendizagem.
Elaborada na década de 1960, a
pirâmide da aprendizagem hierarquiza as formas de retenção de conteúdos, divididos
em procedimentos passivos e ativos. Enquanto aprendizagem passiva, de acordo
com a pirâmide da aprendizagem, 10% do aprendizado é retido no ato da leitura, 20%
no ato de audição, 30% quando se vê algo, e 50% quando se vê e ouve algo; já a aprendizagem
ativa garante 70% de retenção quando se debate com outra pessoa, 80% quando se pratica
o assunto estudado, e 95% quando se ensina a alguém o que se estudou e praticou.
São dados redondos e simétricos, que, no entanto, não existem na literatura de
William Glasser, e tampouco nos arquivos do Instituto Nacional de Treinamento
Laboratorial norte-americano, tido como local da pesquisa.
Por não ter sido encontrado o estudo
original, a pirâmide da aprendizagem é criticada pela ausência de comprovação
científica e suas respectivas evidências, que sugerissem suficiente abrangência
de variantes como número de testes e participantes, idade, gênero, etnia, grau
de escolaridade, contexto social e cultural, entre outros elementos
concatenados. Por esse motivo, a teoria é apontada como generalista e de
excessiva simplificação das porcentagens de aprendizagem, hierarquizando
procedimentos de aprendizagem sem a devida comprovação científica, o que torna
vago os conceitos de aprendizagem passiva e ativa, considerando que absorção de
informação é um ato individual, resultante de influência externa como ambiente
e coletividade de pessoas.
Quando utilizado com finalidade
comercial, por meio de marketing acrítico e dogmático, a pirâmide da
aprendizagem se torna um instrumento orientativo equivocado por não
corresponder à realidade da aprendizagem moderna, que exige técnicas que
sintetizem práticas individuais e coletivas, além de não contar com comprovação
científica das porcentagens da aprendizagem apresentada na pirâmide. Ao
contrário, quando utilizada de maneira crítica, combinando múltiplas técnicas e
estratégias, valorizando métodos tidos como passivos e ativos, e integrando
evidências científicas, a pirâmide da aprendizagem se torna uma eficaz
ferramenta de reflexão pedagógica.
Recordado de que a pirâmide da
aprendizagem conta com autoridade nos campos da cultura popular, e, para
surpresa de quem se guia pela ciência, também nos espaços escolares, haja vista
a sua ausência de comprovação científica, cabe cuidado e senso crítico em sua
utilização, compreendendo-a como demonstração de procedimentos de aprendizagem
não estanques, tornando-se ponto de partida para reflexão pedagógica, em
ocasiões de planejamento escolar, elaboração de plano de aula e práticas
didáticas. Todo esse trabalho da equipe escolar visa oportunizar que o
estudante exerça o seu protagonismo em seu processo de aprendizagem, contando
com procedimentos de aprendizagem que melhor lhe convier, de acordo com a sua
própria característica de retenção de informação.
Tornar
o estudante um monitor – ensinante de outros estudantes não é uma possibilidade
remota, apenas uma questão de tempo de aprendizado e gestão da sala de aula. Aprendizagem
robusta e significativa é possível e é para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia,
Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”.
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