O sistema educacional Montessori abrange a perspectiva de método de ensino (organização e processo linear de ações), abordagem pedagógica (prática e procedimento educativo) e filosofia de vida (conjunto de ideias e condutas que regem a pessoa). Foi concebido e desenvolvido pela médica e pedagoga Maria Montessori (1870 – 1952), que junto com seu filho Mário Montessori (1898 – 1982), e apoiadores, difundiram o seu sistema pelo mundo afora, tornando-se uma marca educacional.
O objetivo do sistema Montessori é
ajudar o desenvolvimento humano da criança, de forma integral e profunda.
Apresenta princípios e características que o tornam peculiar, desde a sua origem
até os dias atuais, não isento, porém, de críticas, haja vista o desafio da
aplicação metodológica em contextos sociais e culturais diversos.
Uma escola montessoriana
operacionaliza a sua estrutura educacional partindo do princípio de que a
criança é capaz de aprender de forma independente, bastando estar garantido as
condições de aprendizagem ideais. Alguns exemplos são 1) mobiliário adaptado e
proporcional ao tamanho da criança, 2) currículo multidisciplinar e turmas
mutisseriadas para cada ciclo de ensino (0 – 6 anos; 06 – 12 anos; 12 – 18
anos; e 18 – 24 anos), com destaque para ações pedagógicas de natureza prática,
equilibrando o estudo individual e coletivo; 3) sistema avaliativo por meio da
observação docente do progresso do estudante em seus componentes curriculares
escolhidos pelos próprios estudantes, a partir de um portfólio temático
disponível semanalmente; 4) material didático voltado para prática sensorial
que proporcione exploração do mundo ao seu redor e experiência holística de aprendizagem,
entre outros elementos também importantes.
A marca montessoriana é assumida
como de qualidade desde o seu início fundacional. Presente em quase todo o
mundo, não tem expandido de modo acelerado o número de unidades escolares nas
últimas décadas. Sob uma perspectiva crítica, é apontada como ensino caro e
elitista, subtendendo que os resultados educacionais positivos são decorrentes
das condições favoráveis dos estudantes e suas famílias, que garantem
acompanhamento escolar adequado; soma-se a esse olhar crítico, a escassez de
pesquisas científicas em larga escala que apontem a eficiência do método e
abordagem pedagógica montessoriana, em comparação a outros sistemas e métodos
de ensino.
Também
há críticas direcionadas ao material didático, sendo apontado como simplório e
excessivamente infantil, por não ser dado a devida estima e confiança ao potencial
cognitivo da criança, bem como a polêmica liberdade no ato de escolha dos componentes
e temas curriculares em sala de aula, que pode sugerir preferência do estudante
por algum componente curricular em detrimento de outro. Por último,
questiona-se o preparo docente para aplicar fielmente o método montessoriano,
sob risco de ser uma simulação da visão e abordagem pedagógica original,
resultando em apenas um mito simbólico do que já foi o sistema Montessori em
suas origens.
Com o avanço da Neurociência e
Pedagogia, identifica-se robusta correlação de ideias, critérios e consenso da
forma que a criança e o adolescente aprendem de maneira eficaz, com o sistema
Montessori. Em sua origem a abordagem pedagógica montessoriana foi difundida
como inovadora; hoje está restrita ao campo acadêmico e pessoas de mediano para
elevado poder aquisitivo. Que se trata de um sistema educativo robusto sob a
perspectiva pedagógica, não há dúvidas, mas como popularizá-lo e torná-lo
aplicável, entendendo que o seu cerne é a experiência e aprendizagem holística,
considerando que o atual contexto sócio educacional brasileiro é de ensino
tecnicista e pragmático, voltado para valores comerciais e econômicos,
monitorado por avaliações de larga escala, cujo critério de indicadores é
domínio de conteúdo curricular seriado? Trata-se de uma equação difícil de se resolver.
Educação integral sempre, é possível e é para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia,
Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”.
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