O campo da educação, enquanto ensino escolar,
esteve amparado por quase a totalidade do século XX, pelo teste de inteligência
Stanford – Binet, conhecido como quociente de inteligência (QI), elaborado por
Alfred Binet (1857 – 1911), pedagogo e psicólogo francês. Embora revisto e
superado cientificamente, o teste de QI ainda é utilizado na atualidade, sobretudo
em instituições de ensino, mantendo o processo de ensino restrito à visão lógico-matemática
e linguística, resultando, por obviedade, em confinamento cerebral dos outros
tipos de inteligência, o que sob uma análise mais ampla, reverbera em exclusão
em todas as áreas da vida.
A teoria do quociente de
inteligência – (QI), foi ofuscada e deslegitimada pela teoria das inteligências
múltiplas (1983), de Howard Gardner (1943 -), psicólogo e neurologista
estadunidense, que identificou que a inteligência não é uma capacidade geral,
mas sim um conjunto de habilidades distintas, cada um com o seu próprio sistema
de processamento, embora não funcionem sozinhas, necessitando umas das outras.
Gardner identificou inicialmente
sete tipos de inteligência: 1) lógico-matemática, 2) linguística, 3) espacial,
4) corporal-cinestésica, 5) musical, 6) interpessoal e 7) intrapessoal.
Posteriormente, incluiu mais dois tipos de inteligência, sendo: 8) naturalista
e 9) existencial. Com a ampliação do número de inteligências, passou-se do
paradigma unidimensional para o multidimensional, tornando imprescindível ensino
e avaliação individualizada no ambiente escolar, em correspondência a cada tipo
de inteligência.
Segundo Gardner, as inteligências
são heranças genéticas, que precisam de estímulo sociocultural ao longo da
vida, podendo ocorrer potencialização de algumas inteligências em detrimento de
outras. No ambiente escolar, as funções de instrução, socialização e preparação
para o mercado de trabalho, tradicionalmente assumidas como fundamentais, podem
ser melhor desenvolvidas a partir da existência de uma cultura escolar de
estímulo e educação cerebral, tornando a escola centro estimulador de
inteligências.
Dessa
forma, entende-se que a escola não é mais a única instituição detentora da
informação, podendo e devendo assumir o papel de estimuladora e mentora do
processo de aprendizagem, haja vista que não se justifica mais na sociedade
como centro transmissor de informação. A ideia de o indivíduo ir à escola
receber informação é tão antiquada na atualidade, quanto ter que se levantar
para mudar o canal da televisão. Revisão dos objetivos e métodos escolares é
emergencial para tornar a escola mais eficiente em seu processo de escolarizar
o estudante, para que o mesmo aprenda a aprender por meio de suas
inteligências.
Em suma, embora se questione sobre as
evidências da separação das inteligências, ou a dúvida de serem habilidades ou
talentos, inegavelmente, desafia a visão tradicional de que a inteligência é
uma capacidade única que pode ser medida por testes de QI, além de promover
personalização do ensino, autoconhecimento e desenvolvimento integral do
estudante. Currículo escolar individualizado, sob amparo da teoria das Inteligências
múltiplas é possível e é para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia,
Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”.
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