Ítalo do Couto
Mantovani*
A
relação entre mobilidade urbana e segurança pública tem se consolidado como um
dos pilares para a construção de cidades mais eficientes e humanas. Em
Pindamonhangaba, com cerca de 170 mil habitantes, essa conexão vem se
fortalecendo por meio de políticas públicas que buscam não apenas reduzir
acidentes de trânsito, mas também melhorar a qualidade de vida de quem circula
diariamente pelas ruas da cidade. Em linha com estudos do Instituto Sou da Paz
e análises do Nexo Jornal, que defendem a integração entre mobilidade,
urbanismo e segurança, as ações adotadas em Pindamonhangaba se inserem em um
debate nacional sobre o futuro das cidades.
Tradicionalmente
associada à criminalidade e à atuação policial, a segurança pública passou a
incluir também aspectos estruturais do ambiente urbano, como a forma como as
pessoas se deslocam e compartilham os espaços. Segundo o Instituto Sou da Paz,
a maneira como as cidades são planejadas influencia diretamente a segurança de
pedestres, ciclistas e grupos mais vulneráveis. Nesse contexto, Pindamonhangaba
vem realizando melhorias que combinam tecnologia, fiscalização, educação e
engenharia de tráfego. Um exemplo claro é a instalação de radares e a ampliação
da sinalização em pontos estratégicos, como o Anel Viário e a rotatória do
supermercado Tenda. Como resultado, entre 2021 e 2022, o município registrou
uma redução de 40% nas mortes causadas por acidentes de trânsito em vias
municipais.
Com
uma frota que ultrapassa 108 mil veículos e a presença constante de caminhões
vindos da Rodovia Presidente Dutra, a cidade enfrenta desafios diários
relacionados ao tráfego intenso. Para lidar com isso, vem adotando medidas como
semáforos inteligentes, capazes de ajustar os tempos de sinalização conforme o
fluxo de veículos, contribuindo para a redução de congestionamentos e de
situações de risco. Mudanças no sentido de circulação em bairros como
Araretama, Campo Alegre, São Domingos e São Benedito também fazem parte desse
esforço por um trânsito mais fluido e seguro.
A
fiscalização tem atuado de forma mais rigorosa. A “Operação Tolerância Zero”,
por exemplo, tem se concentrado na retirada de motos com escapamentos
adulterados e veículos sem documentação regular. Em uma única ação, mais de 20
motos foram apreendidas, sinalizando o comprometimento das autoridades com a
ordem pública e o bem-estar da população.
Além
das intervenções técnicas e operacionais, a cidade tem apostado em ações
educativas. Programas como o Eduseg (2024), voltado a escolas da rede
municipal, abordaram temas de trânsito e cidadania desde a infância, promovendo
comportamentos mais conscientes nas vias públicas. Campanhas como o “Maio
Amarelo” reforçam a importância do respeito mútuo entre motoristas, ciclistas e
pedestres, mostrando que a segurança é uma construção coletiva.
Os
efeitos das políticas já são perceptíveis. A redução de acidentes em pontos
críticos como as avenidas Professor Manoel César Ribeiro e Nossa Senhora do Bom
Sucesso comprova a eficácia de intervenções bem planejadas. Com a padronização
de velocidades em 50 km/h e a sinalização reforçada, houve diminuição nos casos
de avanço de sinal e excesso de velocidade. Ainda assim, a cidade enfrenta
obstáculos relevantes. O crescimento urbano, a frota em constante expansão e a
falta de infraestrutura adequada em áreas periféricas demandam ações contínuas.
Ruas com calçadas estreitas, ausência de ciclovias e desrespeito à faixa de
pedestres continuam sendo problemas recorrentes.
A
ampliação e qualificação do transporte coletivo também se impõem como
prioridade. Reduzir o uso de veículos particulares é essencial para diminuir o
número de acidentes e os níveis de poluição. Para isso, é necessário garantir
linhas eficientes, frota adequada e horários regulares, pontos ainda frágeis no
sistema atual.
A
experiência de Pindamonhangaba evidencia que segurança e mobilidade devem ser
tratadas de forma integrada. O município avança ao abandonar abordagens
fragmentadas e investir em soluções transversais, envolvendo diferentes áreas
da administração pública. Mais do que reprimir infrações, as ações em curso
demonstram uma valorização da prevenção, do planejamento urbano e da
participação da comunidade.
Repensar
a mobilidade urbana como estratégia de segurança é, sobretudo, um compromisso
com a vida. E embora ainda haja muito a ser feito, Pindamonhangaba dá sinais de
que está no caminho certo: de uma cidade que tratava o trânsito como problema,
para uma que reconhece na mobilidade parte da solução.
* Diretor da Divisão de Estudos e
Monitoramento da Coordenadoria da Atividade
Delegada – Secretaria de Governo
Municipal da Cidade de São Paulo
Formado em Gestão de Políticas
Públicas pela USP
Mestre em Gestão e Desenvolvimento
Regional
Graduando e História pela USP
Professor de Cursinho pré-vestibular
em São Paulo
Contato: italocmantovani@gmail.com
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