A Psicopedagogia se refere aos campos de
estudo da Psicologia e da Pedagogia, com a finalidade de investigar a relação
entre o aprendizado e a mente do ser humano, desde criança até a vida adulta.
Diagnostica, previne e intervêm em dificuldades de aprendizagem, tanto de
natureza clínica como institucional, caracterizando-se como interdisciplinar.
Sua origem remonta ao início do
século XIX, na França, atrelado aos campos da Medicina, Psicologia e
Psicanálise, tratando-se de terapia para criança que apresentasse lentidão na
aprendizagem. Até o final da primeira metade do século XX, atribuía-se as
dificuldades de aprendizagem e convívio social à fatores internos da criança;
inclusive no Brasil, nos anos de 1960, quando a Psicopedagogia passou a ser
ministrada nas universidades, o distúrbio de aprendizagem era classificado como
problema neurológico, além da estigmatização cultural de que pobre não
conseguia aprender, desconsiderando o contexto de precarização da estrutura
educacional da época. Somente no final do século XX que a Psicopedagogia passou
a explorar as dificuldades de aprendizagem a partir de outros pontos de vista
como o econômico, social e ambiental, podendo ser questionado fatores externos
como o ambiente em que a criança vivia, o modo que era criado pelos
responsáveis e os procedimentos metodológicos utilizados na escola.
A psicopedagogia tem trilhado um
longo caminho em sua regulamentação profissional. É concebida como importante
ferramenta de desenvolvimento humano, mas conta com baixo apoio
político-governamental em sua regulamentação, resultando em operacionalização e
alcance profissional limitado, como por exemplo, não ser uma função obrigatória
no ambiente escolar. É identificada pelo código 2394-25 no catálogo brasileiro
de ocupações (CBO), sendo reconhecida pela resolução nº 3/2022 do Conselho
Federal de Psicologia como uma área profissional do campo da Psicologia. Em
2023, foi aprovado no Senado Federal, pela Comissão de Educação (CE), o projeto
de Lei 1.675, que disciplina os requisitos da função do psicopedagogo,
permanecendo em análise da Comissão de Assuntos Sociais (CAS).
No campo da Psicopedagogia
institucional, com ênfase em aprendizagem escolar, o psicopedagogo tem o papel
de identificar dificuldades, planejar intervenções, promover a aprendizagem
cooperativa, aconselhar pais e professores, a fim de garantir alinhamento
teórico e prático entre o que é esperado do ensino docente e o que é apreendido
por parte do estudante. Embora o psicopedagogo desempenhe um importante papel
educacional, não é raro ser compreendido equivocadamente como fiscalizador do
trabalho escolar e responsável por desestabilizar certezas pedagógicas, em
espaços educativos enraizados em abordagens pedagógicas racionalistas e
tradicionais.
Não são poucos os desafios que o
psicopedagogo enfrenta no ambiente escolar, como 1) baixo engajamento dos responsáveis
dos estudantes, tanto por não se fazer acessível à comunicação com a escola e o
psicopedagogo, como pela ausência de acompanhamento do assunto relacionado à
criança no ambiente familiar; 2) ausência de formação e atualização
psicopedagógica acadêmica com abrangência de fatores externos, tais como
econômico, ambiental e social; e 3) peculiaridade da educação inclusiva com
casos individualizados, cujos distúrbios de aprendizagem requerem, muitas
vezes, apoio de equipe multidisciplinar, como psicólogo, pedagogo,
fonoaudiólogo, psicomotricista; entre outros desafios. Ao desempenhar a sua função
por meio de entrevistas, observações, testes e atividades lúdicas, o
psicopedagogo diagnostica, previne e cura dificuldades de aprendizagem de
maneira técnica, ética e afetiva. Psicopedagogia institucional em todas as
escolas é possível e é para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia,
Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”.
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