O construtivismo educacional tem sido tema de constante polêmica na sociedade brasileira, por ser compreendido por alguns pesquisadores como epistemologia e, por outros, como método e procedimento didático. Seja uma área de conhecimento, ou um método, o construtivismo tem na figura do estudante, o começo, o meio e o fim do processo de aprendizagem, compreendendo-o como permanente protagonista do seu desenvolvimento cognitivo, por conferir sentido e significado ao que estuda.
A teoria construtivista foi criada
pelo biólogo e psicólogo suíço Jean Piaget, ao longo do século XX, consistindo em
uma pesquisa sobre a origem e estágios do conhecimento da criança e estudante
infanto-juvenil, sendo percorridos de forma linear, como maneira de se atingir
a plena capacidade de raciocínio.
Foi implementado no Brasil na década
de 1980, sob influência pedagógica da Escola da Ponte, instituição pública
portuguesa, fundada em 1976, que se guia pelo critério de não possuir divisão
de alunos por classe ou série, e não fazer uso de livros didáticos, privilegiando
o poder da tomada de decisão do estudante, em todas as fases de aprendizado,
até o final da educação básica. Tornou-se popular no Brasil, como substituto da
abordagem de ensino tradicional, consolidando, no entanto, o equivocado
entendimento de que o construtivismo é uma teoria e um método ao mesmo tempo.
Desde o início do século XXI, o
Brasil tem adotado a prática de medição de resultados de aprendizagem, por meio
de avaliações de larga escala, cujos resultados estão aquém do esperado, tanto
para a alfabetização na idade certa (2º ano do ensino fundamental), como
conhecimento acumulado ao término de cada etapa de ensino da educação básica
(5º e 9º ano do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio). Querer entender
o fracasso da educação brasileira requer reconhecimento do fracasso do
construtivismo implantado no Brasil, legítimo como teoria, mas falho como
método, por não ter parâmetro científico para ser replicado em cada localidade
do país, haja vista distinções de costumes e condições socioeconômicas.
Nesse sentido, é possível elencar pontos
dicotômicos sobre a sua operacionalização no Brasil: 1) implementada no campo
universitário como teoria e assumida como método, não contando com respaldo
científico como procedimento metodológico; 2) requer desenvolvimento do
raciocínio lógico e senso crítico, em correspondência aos estágios evolutivos
da criança, contrastando, no entanto, com a estrutura curricular parametrizada de
cada etapa de ensino, somado aos cronogramas de ensino com curto espaço de tempo
entre uma avaliação e outra; 3) promove reflexão crítica e integral, associada
ao próprio contexto, por meio de ensino inter e transdisciplinar, divergindo,
porém, do formato de avaliação externa estadual e nacional, que exigem domínio
de conteúdo disciplinar específico; 4) egressos de licenciaturas sem maior
domínio conceitual sobre o construtivismo, resultando em desenvolvimento
curricular desconexo da realidade escolar; 5) salas de aula com excesso de
estudantes, com evidente desnível de reflexão crítica e aprendizagem, além do
desengajamento nos processos escolares, entre outros elementos que tornam
utópica a aplicação da teoria construtivista na educação brasileira.
Em suma, a teoria construtivista se
mantém como referência no campo educacional brasileiro por apresentar a origem
e estágios evolutivos do conhecimento da criança, não sendo, porém, aplicável
na atual sociedade brasileira, bastando observar o contínuo baixo nível de
aprendizagem, desde as primeiras medições de aprendizagem no início dos anos
2000. Cabe urgência de apropriação da ciência como critério para amparar e
embasar a educação. Se um pai e uma mãe não devem autorizar um médico a adotar
procedimentos clínicos não testados em seu filho (a), porque deveria autorizar abordagens
educacionais não testadas em sua escola e filhos (as)? Abordagens educacionais
baseadas em evidências científicas é possível e é para hoje!
Por
Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia,
Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira –
“Sr. Sara”.
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