terça-feira, 29 de abril de 2025

Construtivismo educacional no Brasil: concebido como teoria, naturalizado como método e assumido como ideologia


            
 O construtivismo educacional tem sido tema de constante polêmica na sociedade brasileira, por ser compreendido por alguns pesquisadores como epistemologia e, por outros, como método e procedimento didático. Seja uma área de conhecimento, ou um método, o construtivismo tem na figura do estudante, o começo, o meio e o fim do processo de aprendizagem, compreendendo-o como permanente protagonista do seu desenvolvimento cognitivo, por conferir sentido e significado ao que estuda.

            A teoria construtivista foi criada pelo biólogo e psicólogo suíço Jean Piaget, ao longo do século XX, consistindo em uma pesquisa sobre a origem e estágios do conhecimento da criança e estudante infanto-juvenil, sendo percorridos de forma linear, como maneira de se atingir a plena capacidade de raciocínio.

            Foi implementado no Brasil na década de 1980, sob influência pedagógica da Escola da Ponte, instituição pública portuguesa, fundada em 1976, que se guia pelo critério de não possuir divisão de alunos por classe ou série, e não fazer uso de livros didáticos, privilegiando o poder da tomada de decisão do estudante, em todas as fases de aprendizado, até o final da educação básica. Tornou-se popular no Brasil, como substituto da abordagem de ensino tradicional, consolidando, no entanto, o equivocado entendimento de que o construtivismo é uma teoria e um método ao mesmo tempo.

            Desde o início do século XXI, o Brasil tem adotado a prática de medição de resultados de aprendizagem, por meio de avaliações de larga escala, cujos resultados estão aquém do esperado, tanto para a alfabetização na idade certa (2º ano do ensino fundamental), como conhecimento acumulado ao término de cada etapa de ensino da educação básica (5º e 9º ano do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio). Querer entender o fracasso da educação brasileira requer reconhecimento do fracasso do construtivismo implantado no Brasil, legítimo como teoria, mas falho como método, por não ter parâmetro científico para ser replicado em cada localidade do país, haja vista distinções de costumes e condições socioeconômicas.

            Nesse sentido, é possível elencar pontos dicotômicos sobre a sua operacionalização no Brasil: 1) implementada no campo universitário como teoria e assumida como método, não contando com respaldo científico como procedimento metodológico; 2) requer desenvolvimento do raciocínio lógico e senso crítico, em correspondência aos estágios evolutivos da criança, contrastando, no entanto, com a estrutura curricular parametrizada de cada etapa de ensino, somado aos cronogramas de ensino com curto espaço de tempo entre uma avaliação e outra; 3) promove reflexão crítica e integral, associada ao próprio contexto, por meio de ensino inter e transdisciplinar, divergindo, porém, do formato de avaliação externa estadual e nacional, que exigem domínio de conteúdo disciplinar específico; 4) egressos de licenciaturas sem maior domínio conceitual sobre o construtivismo, resultando em desenvolvimento curricular desconexo da realidade escolar; 5) salas de aula com excesso de estudantes, com evidente desnível de reflexão crítica e aprendizagem, além do desengajamento nos processos escolares, entre outros elementos que tornam utópica a aplicação da teoria construtivista na educação brasileira.

            Em suma, a teoria construtivista se mantém como referência no campo educacional brasileiro por apresentar a origem e estágios evolutivos do conhecimento da criança, não sendo, porém, aplicável na atual sociedade brasileira, bastando observar o contínuo baixo nível de aprendizagem, desde as primeiras medições de aprendizagem no início dos anos 2000. Cabe urgência de apropriação da ciência como critério para amparar e embasar a educação. Se um pai e uma mãe não devem autorizar um médico a adotar procedimentos clínicos não testados em seu filho (a), porque deveria autorizar abordagens educacionais não testadas em sua escola e filhos (as)? Abordagens educacionais baseadas em evidências científicas é possível e é para hoje!

            Por Rodrigo Tarcha Amaral de Souza, licenciado em Filosofia, História e Pedagogia, Mestre e Doutor em Educação, Diretor da Escola Municipal Serafim Ferreira – “Sr. Sara”.

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